A Caçada





Corria por entre galhos e troncos, em um verdadeiro.
Emaranhado cipreste. Parou, por um momento, curvado e com as mãos sobre os joelhos, de mostrando um imenso cansaço. Sentia o ar entrar paulatinamente enquanto os pulmões imploravam por mais. Mais uma vez a comichão saltou em sua boca como sujeira em superfície branca. Olhou para o alto e viu a noite se aproximar, rastejando como uma negra silhueta, sobre o que fora um céu azul horas atrás.
Tentou escutar, pois queria saber se ainda estava sendo seguido, mas as batidas em seu coração não lhe permitiam ouvir nada que não fosse o ressoar de um imenso tambor ecoando em seu peito. Resolveu que tinha que seguir adiante. Ficar poderia ser um erro fatal e o mundo àquela altura não parecia ser um lugar para erros.
         A noite caía por sobre a floresta. O frio começava a invadir cada pedaço do seu corpo, assobiando a canção da morte em seus ouvidos. Hoje o abominável homem das neves deveria usar seu gorro, diria a sua avó Libby. Ajeitou a blusa de frio sobre o corpo, como se quisesse esticar as mangas sobre as frias mãos, e seguiu adiante. Precisaria de um refúgio antes que a noite se instalasse por completo.
Era só um fim de semana fora do comum na casa do tio Herb, em uma fria floresta no Canadá. Todos vinham dizendo-lhe que ele trabalhava demais e que precisava sair de férias. No fundo sabia que isso era verdade e também que devia essa visita há muito. Além disso, prometera à sua mãe.
         O tio Herb era um cara legal, com seu corpanzil de lenhador com dedos tão grossos que era um mistério como conseguia usar o celular. Tinha uma casa simples, mas bem acolhedora, e o café com chocolate ao redor da lareira na sala era bem mais do que simplesmente reconfortante.
         Ali era, sem dúvida, o lugar certo para recarregara bateria e voltar para sua rotina estressante em uma grande firma de investimentos em Nova York. Aquela era a segunda noite das três que passaria por ali. Agora corria, deixando o rastro de medo atrás de si como um sinal de fumaça.
         Súbito, escutou algo próximo de um uivo, um grasnido, como se algum animal agonizasse perto do fim. O uivo, que se assemelhava a um lamento, chegara coincidentemente com a noite.
         Estacou novamente. Estava correndo há horas, provavelmente em círculos. A respiração ofegante erguia seu peito como uma bomba de ar. Enfiou as mãos no bolso, desesperadamente, procurando seu aparelho celular.
          A grande tela iluminou seu rosto já acinzentado pelo frio e ergueu o telefone em busca de sinal, teimando com o perfeito isolamento em que se encontrava. Às vezes, esperança é tudo que se tem, lhe disse a voz da consciência.
         Não entendia como os japoneses faziam a besteira da sua biblioteca musical caber inteira na palma da sua mão, mas não tinha a porra de um sinal quando estava enfiado no mato. Isso quase o transformava em um Tarzan com um liquidificador ou Robson Crusoé com um Xbox.
         Voltou os olhos, os grandes olhos azuis que encantavam desde o colegial, para dentro da floresta, quando teve seu raciocínio quebrado por mais um daqueles estranhos uivos. Decidiu que se era para morrer abandonado e longe da civilização iria dificultar o máximo para eles.
         Tinha as costas apoiadas contra um espesso tronco de uma árvore. Mesmo exaurido, tinha que continuar e descobrir o que realmente estava acontecendo.
         Se pelo menos soubesse por onde estava andando... Tio Herb conhecia cada maldito pedaço daquele lugar, lembrou. Mas não adiantava. Herb estava morto agora.
         Puxou o ar mais uma vez, como se faz antes de um mergulho, e pôs-se a correr.  “18:31” era o que o seu grande smartphone dizia quando o ligara fazia pouco tempo. Devia estar nesse redemoinho insano há quase duas horas.
         Onde ficava a porra da cidade mesmo? Foi o que disse quase em voz baixa. Decidiu ir na direção em que estava, pois o caminho estava feito sobre a relva. Era como se usassem aquela trilha com frequência. Fazia sentido, então era por ali que seguiria. Pelo menos enquanto os pulmões aguentassem.
         Sem saber o porquê, lembrou-se dos ingressos da final no Citi Field Baseball Stadium. Tinha usado todo seu charme e contatos para conseguir aqueles ingressos. A final seria na Terça à noite. Passariam no 1920 Bunker Club antes. Ele e Rudy, o grande amigo de infância. Depois, já com algumas cervejas na cabeça, iriam para o jogo.
         Dizem que algumas pessoas antes de morrer veem um filme inteiro de suas vidas diante delas. Jack não sabia se isso era verdade, tampouco se estava realmente para morrer, mas lembrou da final dos New York Mets contra os Atlanta Braves.
         Independente do que achava àquela altura, Jack correu decididamente por entre aquela trilha aberta em meio ao denso matagal que era aquela floresta.
         A temperatura havia caído consideravelmente e seus pulmões ardiam como brasas sob uma grelha. No escuro os sons e formas pareciam ganhar tamanho.Longe, o uivo ganhou uma conotação de horror, diferente do lamento que Jack achara ter ouvido antes. E a cada vez que olhava por sobre os ombros, achava - na verdade quase tinha certeza -, que a extensa e negra mão que habita a escuridão lhe tocaria com dedos tão frios como a morte.
         Tinha a certeza de que o barulho estava mais perto agora. Eram mais rosnados do que uivos na verdade. Finalmente a trilha havia acabado e Jack chegou em uma espécie de paredão. Sem titubear, começou a escalar a rocha. As frestas eram tão grandes que lhe permitiam servir como degraus.
         Lembrou de sua antiga coleção de revistas em quadrinhos, em especial a do bárbaro Conan, criado por Robert E. Howard, em que o Cimério escalava muros e planícies tão lisas como se tivesse cola na ponta dos dedos selvagens. Mas os tempos eram outros e Jack tinha certeza de que o coração do velho bárbaro não saltava à boca em situações como essas ou tampouco sucumbiria ao pavor de uma invisível mão que pudesse habitar o coração das trevas no fundo da floresta.
          Já quase no cimo da pontiaguda rocha, pôde ver seus agressores se aproximarem. Manteve-se estático como uma haste de pedra, quase se tornando parte daquele imenso pedregulho com cor de concreto. Cerrou os olhos, forçando-os sobre as pálpebras. Talvez fossem embora se não o avistassem lá em cima. Ou talvez... Talvez o farejassem com o agridoce aroma da morte, escancaradas em suas faces.
          E, aos montes, eles foram se amontoando lá embaixo.Eram desordenados, quase como se estivessem confusos. Mas definitivamente assustadores terrivelmente assustadores.
         Tremendo e com o medo a cavalgar por sobre seu corpo e o vento frio a lhe açoitar em pleno relento, Jack rogava para que um anjo de luz pudesse intervir e salvar sua vida. Ainda que naquele momento o mundo tivesse se transformado em um lugar inóspito até mesmo para anjos.
         O bando se aglomerava cada vez mais. Eram muitos agora. À frente de Jack descortinava-se o horror. Seu odor humano provavelmente invadia as narinas de todos lá embaixo deixando-os em total alvoroço. Sem muita opção, continuou seu caminho rumo ao topo da rocha. Alguns membros do bando ousavam escalar o rochedo, sem sucesso, enquanto outros procuravam outra forma de ter acesso ao cimo.
         Uma semana antes de tudo aquilo o mundo científico estivera em polvorosa: um enorme fragmento do que alguns consideravam um planeta provavelmente extinto pelo sol teria o seu cinturão lançado à órbita da terra. E embora não fosse trazer risco algum ao nosso planeta, seu brilho e incandescência poderiam ser vistos a olho nu. A Estrela da Morte, como vinha sendo chamado o enorme asteroide, passaria dentro de quatro dias, etalvez nem em cem anos aconteceria algo perto disso. Uma chance única - é o que a maioria dizia.
         Connie, a mãe de Jack, insistiu que esse fosse o momento de realmente visitar o tio Herb. Aquela seria uma ótima oportunidade de ver algo tão único assim sobrevoando os céus de nosso planeta.
         O local onde morava o tio Herb era o palco perfeito, um lugar onde todas as noites podia-se até mesmo contar as estrelas no céu. Diante daquele enorme véu escuro tudo parecia brilhar mais e mais. Jack tinha visitado o lugar algumas vezes na sua infância e sabia que isso era verdade. 
          Então, no exato momento que havia sido anunciado aos quatro cantos, Jack e o tio Herb estavam do lado de fora da casa, aquecidos por uma bela fogueira caseira. Ficaram abismados quando a Estrela da Morte cruzou o céu sobre suas cabeças, que estendidas, olhavam para o alto, estupefatas. O brilho era impressionante e trazia uma cauda de fogo que serpenteava no negro céu.
         Impactados com a unicidade e beleza do momento, Jack e tio Herb fitavam a grande bola de fogo a atravessar os céus e permaneceram em silêncio, apenas observando.
         Entretanto, o que não fora detectado pelos entusiasmados cientistas e pesquisadores era o alto grau de radioatividade, além de um exótico mineral que em contato com a nossa atmosfera poderia se transformar em algo tremendamente nocivo, principalmente para alguns animais.
         Menos de um minuto depois, enquanto sua cauda aindatremeluzia diante dos olhos de milhares, as pessoas, admiradas, registravam tudo em seus celulares e tablets. Sorrisos e faces de espanto olhavam para o céu, admirados. E mais e mais a cena ia se repetindo em diferentes pontos do mundo.
         Do lado de fora da cabana, em frente à fogueira, tio Herb olhava, impressionado, o grande e brilhante cometa sobre sua cabeça iluminando como um grande sol tudo à sua volta.
         O espetáculo foi interrompido quando um rosnar atípico se fez ouvir vindo de dentro da casa.
         Desviando os olhos por um momento, tio Herb voltou seu olhar para a frente da casa e no escuro da porta entreaberta viu surgir o brilho efusivo de dois pontos avermelhados. Não entendeu ao certo. Apenas o velho cão Salt estava lá dentro e sempre fora manso como uma criança calma.
         Jack também voltou seus olhos por um instante e viu que algo estranho acontecia.
         O focinho esbranquiçado surgiu pela fresta da porta tendo agora, o brilho da Estrela da Morte sobre sua carranca com pelo acinzentado. Os dois se entreolharam.
         Salt aproximou-se com os dentes à mostra. Os caninos saltavam-lhe à boca, brancos como marfim. As unhas pareciam maiores e o ar amistoso do velho cão dera lugar a um semblante de fera incontrolável, prestes a atacar.
         Diante da situação, tio Herb ajoelhou-se e chamou o velho companheiro para perto deles, como se aquilo não passasse de um mal entendido.
— Ei, Tio, acha mesmo uma boa ideia? Ele parece um tanto transtornado.


— Calma Jack. É o velho Salt. Está comigo há mais de quinze anos... Venha cá, garotão. O que
foi?  — disse Herb, gesticulando amistosamente para o cão.

         Salt havia se transformado em um imenso rato gigante que berrava contra a vassoura.
         Os olhos do tio quase saltavam de sua órbita, tamanho o susto. Ficaram estacados por algum momento e Jack ainda não havia entendido muito bem o que acontecia.
         Ouviu um farfalhar no arbusto longe atrás da fogue ira, seguidos de uivos e rosnados assustadores. A grande bola de fogo ainda cruzava os céus quando o velho cão Salt avançou sobre o dono com o ódio reluzindo em seus olhos alaranjados.
         Jack, estacado com o ataque, não teve o que fazer, e viu o cão estraçalhar o pescoço do tio com uma ferocidade implacável. Nos arbustos um bando dehienas surgia com o mesmo olhar insano e bocarras escancaradas sobre os prolongados focinhos, enquanto, ao longe, mais uivos e grasnidos se juntavam ao bando.
         Olhou para o corpo de Herb sendo desmembrado e o medo correu por todo o seu ser. Lentamente foi abandonando a cena, andando para trás.
         As hienas surgiram através do arbusto, enlouquecidas pela passagem da bola de fogo, e agora cravavam os dentes sobre o cadáver do tio. Mais e mais pareciam surgir. Uma hiena que passava a língua entre os dentes, ainda com a face suja de sangue, olhou para Jack como se dissesse: você é o próximo, garoto!
         Apavorado, Jack pôs-se a correr, o coração saltando lhe à boca. Em todo o mundo havia relatos de cães e animais quase tornaram descontrolados, praticamente enlouquecidos.
         Agora Jack estava escalando o cimo da rocha enquanto todos eles se aglomeravam lá embaixo esperando que o cansaço ou o desespero levassem-no a falhar. Olhou para baixo uma vez mais, vendo os olhos coloridos e pelos eriçados sobre os longilíneos corpos das feras.
         Esforçou-se e a mão alcançou o topo do imenso rochedo. Rolou de lado deixando o cansado corpo espalhado pela superfície arenosa do rochedo. Ainda ofegante, abriu os olhos e viu o negro céu que circundava, como uma enorme redoma escura, o firmamento. O coração ainda batia descompassado dentro do peito.
         Ali em cima os ruivos e rosnados pareciam chegar mais assustadores do que antes. Resolveu erguer o corpo e arranjar uma maneira de sair dali. Cedo ou tarde aquelas criaturas conseguiriam chegar ao topo da montanha. Seria bom que não estivesse mais por lá quando isso acontecesse.
         Chegou perto do limite da encosta e deixou seus olhos avistarem o bando lá embaixo, mesmo com o lancinante frio da altura golpeando seu estômago.Identificou Salt entre eles. Parecia o líder, se é que tinham algum.
         Um coiote com o pelo dividido entre preto e branco e um enorme respingo de sangue sobre a face caminhava em círculos, trazendo consigo um pedaço da perna do tio Herb, ou o que sobrara dela.
         Os olhos de Jack corriam por toda a extensão da montanha.
         Ao longe parecia ouvir o barulho de água. 
Resolveu então cruzar os arbustos que se encontravam à sua esquerda, pois era o que tinha àquele momento. Afastou os galhos com a mão enquanto espinhos e ramos rasgavam e penetravam no seu espesso blusão de frio. Continuou atravessando o denso corredor de galhos e troncos que se assemelhavam a uma coroa de espinhos.
         Ouviu o barulho da água mais próximo e pensou na possibilidade de realmente estar salvo. Quase sorriu. Pensou estar quase no fim daquele emaranhado esverdeado e, antes do que imaginou, saiu em uma clareira oval que tinha a luz da lua como um holofote brilhando em um grande palco iluminado.
         Tinha seu blusão quase coberto de cortes e rasgos. Nas mãos, espinhos cobriam partes das falanges de seus dedos e filetes de sangue escorriam enquanto o frio esbofeteava sua face com uma fina luva de gelo.
         Aproximou da encosta saindo um pouco do palco oval à suas costas.
         Lá embaixo, no fim do penhasco, entre rochedos e recifes a corrente d'água explodia contra as rochas em uma violenta maré. Deixou seus olhos mergulharem naquele penhasco, percebendo que era, de fato, sua única saída. Mas, mesmo que sobrevivesse à queda, ainda havia os recifes e a temperatura da água que poderiam matá-lo antes mesmo que encontrasse a margem.
         Passou as mãos sobre o rosto gelado, e quase desistiu. Era apenas um fim de semana com seu tio e que não via por uma longa data, pensou. E agora estava na encosta de um penhasco pensando em vida e morte como uma escolha entre cara e coroa decidida por uma moeda.
         Pelo visto a reunião com um investidor alemão na segunda teria que esperar. A final com Rudy na terça também. Provavelmente até o jantar com a estagiária do marketing. A não ser que ela acreditasse na vida após a morte, pensou, e quase sorriu novamente.
         Os arbustos farfalharam violentamente, seu coração disparou.
         A luz ainda tinha seu holofote, ali, no palco daquela encosta.
         Viu o focinho esbranquiçado surgir quase com graça,iluminado pelo brilho da lua, logo seguido pelos olhos coloridos. Salt foi o primeiro, seguido por mais dois. Pararam sobre o oval círculo de luze ficaram observando por um instante sua presa.
         Estáticos, cruzaram os olhares por um bom tempo. Salt estava no meio, era o líder, sem dúvida. O coiote listrado em branco e preto trazia a perna de Herb ainda consigo, um troféu de osso e sangue. O vento sibilava com furor sobre a encosta.
         Salt deu um passo à frente. A meia lua amarela brilhava no centro do seu olho, seus caninos brancos rosnavam e o vento corria sobre seu pelo eriçado. O arbusto se mexeu uma vez mais e dele surgiu o resto do bando. O jantar estava servido, e agora todo o bando encontrava-se no cimo da encosta.
         Jack deu mais um passo para trás. Tinha ali seu limite: o calcanhar sob a perna que tremia, estava à beira do penhasco.
         O vento açoitava suas costas, os cortes ardiam em suas mãos.
         Então Salt ergueu-se sobre as patas com as imensas unhas agarrando-se ao chão. Praticamente em pé, mostrando a barriga peluda e os dentes escancarados, rosnou como uma besta sob o brilho da lua. Parecia enorme visto dali, à beira da encosta.
         Voltou às patas dianteiras ao chão, olhou uma última vez para seu bando e jogou-se em direção a Jack.
         A distância parecia enorme.
         Jack viu as patas afundarem no chão em cada passo, aproximando cada vez mais de onde estava e curvou o corpo, esperando o ataque. Não tinha mais aonde ir. Colou seus olhos na horrenda face de seu predador.
         Ali, sob aquele frio e lancinante vento, os segundos pareceram uma eternidade. Todos os olhos do bando estavam juntos com Salt.
         Jack retesou seus exauridos músculos enquanto seu coração ribombava em seu peito. Salt, decidido, saltou sobre Jack. No impacto e já à beira do penhasco, caíram agarrados em um vertiginoso mergulho.
         Jack tentava conter as investidas do seu peludo algoz, mas as incontroláveis presas alvas de Salt cravavam em seu antebraço retirando nacos de carne e sangue misturado ao espesso nylon do blusão fazendo com que ele urrasse, em uma dor visceral, enquanto o mergulho continuava.
         Incansável, Salt investia seguidas vezes contra a face de Jack, o sangue espalhando-se em plena queda. Logo teve sua artéria carótida rompida pelos afiados caninos do Cão, que golpeavam seguidamente a face lateral de seu pescoço.
         No alto do penhasco, o bando aglomerava-se à beira
da encosta assistindo o espetáculo, passando
a língua entre os dentes com os focinhos ainda cheios de sangue... e uivando.
        
         Jack se rendera ao vazio e, de forma embaçada, via a luz da lua e os olhos do horror a lhe rasgarem o pescoço. O vento frio não mais incomodava.
         Como uma rocha, os dois adentraram a fria água que cobria os corais. Jack absorvera todo o impacto, esmagando costelas e ossos.
         Com a colisão, entregou-se aos braços da morte, afundando com o sangue ainda jorrando de sua garganta estraçalhada. Os olhos lentamente se apagando.
         Do outro lado da encosta, Salt boiava em direção à margem.
         Do cimo da montanha o bando via seu líder ser levado à margem pelo balançar das ondas. O silêncio era quebrado pela maré que se jogava violentamente contra os recifes e corais.
         Salt jazia desacordado na superfície arenosa. A boca ainda trazia a vermelhidão do sangue de Jack espalhada pelo alongado focinho esbranquiçado. Entre os dentes jaziam pedaços de carne.
         Súbito, seus olhos se abriram, a amarelada meia-lua brilhou como fogo no centro do seu olho.
         Pôs-se de pé e chacoalhou o corpo no intuito de secar a molhada pelagem que cobria seu corpo. A espessa cauda chicoteava o ar espalhando gotas à sua volta.
          Olhou para o alto e viu seu bando em alarde. Comemoravam quase como um bando de bárbaros enlouquecidos.
          Ficou em pé sobre as duas patas como uma enorme criatura da noite e berrou para o alto em direção ao cimo, onde encontravam-se os outros.
         Os dentes, arreganhados, estavam sujos de sangue... e ele queria mais. 







Contos de terror: Minibiografia: Luis Maldonalle autor do livro Sete Noites em Claro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é sempre bem vindo! comente, opine, se expresse! este espaço é seu!


Deixe seu comentário♡



Eu amei de verdade lê cada palavrinha do teu comentário, cada um é mais do que importante pra mim. É muito gratificante, pois assim consigo perceber que meu trabalho está sendo visto♡♡