Mostrando postagens com marcador Terror. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Terror. Mostrar todas as postagens

Fulga do destino

 



           Nessa noite fazia um silêncio mais alto, parecia uma noite diferente de outras. Resolvo assistir a um filme de terror por voltas de 1:00h da manhã na sala com a minha mãe. No meio do filme na parte mais explicativa ela resolve ir à cozinha pegar algo para comer. Permaneço no sofá e olho para meu celular. Quando olho para a porta com vidros transparente vejo uma pessoa vestida como aquelas roupas de monges e capuz preto. Como se quisesse entrar dentro da minha casa. Parecia-me algoz.
Minha mãe diz que iria dormir e eu que costumava dormir tarde nesse dia quis ir dormir cedo também.
Depois vi essa pessoa dentro de casa no corredor atrás da minha mãe. Pisco meus olhos e desaparece.
Quando vou me deitar antes de dormir vi novamente, mas fiquei com medo de encarar, pois ele parecia querer mostrar seu rosto pra mim. Pego cobertor e rapo meus olhos. Noite turbulenta ouço cochichos. Quando ouço um objeto do meu quarto cair eu acendo as luzes na hora e então procuro o que tinha sido e não tinha caído nada o som era de algo de plástico. Noite turbulenta, mas quando me dou conta já estava dormindo. Sinto puxarem a minha perna com muita força. Quando nesse mesmo momento acordo no meio da cama com suspiro de susto e uma respiração pesada.
           No dia seguinte acordo muito cansada e mal consigo pronunciar palavras, mas penso que sair de casa seria bom e eu não veria. Não sei porque pensei isso, mas só queria sair daquela casa. Na porta de casa olhei para os lados e não via essa pessoa, mas no meio do caminho sinto alguém me seguindo e isso me aterrorizava até que comecei a correr. Não adiantou eu olhei para trás e vi essa pessoa com capuz preto de longe parada me olhando. Continuei a correr, mas por estar cansada da noite passada acabei caindo no meio da rua e um carro me atropelou.
          Horas depois estava em casa, e pensando em nunca mias ver filmes de terror de madrugada, mas na verdade não era bem a minha casa. Eu estava em uma porta qualquer vestida com capuz preto olhando uma pessoa da sala assistindo televisão de madrugada. Eu queria entrar para pedir ajuda, mas aquela menina fingiu não me ver e foi correndo para seu quarto.

 

Prisioneira do pesadelo


      Foto: Reprodução / Christopher Mckenney 

       Voltando para escola com a minha inseparável amiga, todas os dias pegávamos ônibus e a paisagem da viagem já era costumeira para nós. Passeávamos um pouco pelas ruas a caminho de casa. Cumprimentamos o açougueiro, a qual sempre imaginávamos que ele secretamente trabalhava em um outro lugar, pois ele parecia ser tão rico, a casa dele ao lado era enorme. Sempre que o víamos ele esbanjava um lindo e grande sorriso pra todos que passavam na rua
        Em um dia, não sei ao certo quantos dias tinham se passado. Ao acordar me vejo presa com cordas, me vinha fleches de memória lembro-me de uma ponte, de estar eu e minha amiga comprando sorvete, olho em volta e vejo que estou em um casa velha, tento me levantar vejo uma janela e um andaime, e em cima dele havia uma garrafa de bebia de vidro, balanço para ele cair no chão em seguida pego um dos cacos de vidro cortando as cordas e conseguindo me soltar, mas o sequestrador ouve o barulho e abre a porta do porão onde eu estava, e eu corro para me esconder em um buraco que tinha na parede, olho ele de longe e vejo que era o açougueiro com seu facão de carne e seu avental sujo de sangue e com uma cara de irritado me procurando, até ele desistir e subir mas ele havia deixado a porta aberta, nesse momento pensei em passar minhas últimas horas de vida escondida, pois sabia que ele estaria me esperando do lado de fora, porém coragens me tomaram e decidi tentar escapar dessa casa. Subo devagar as escadas e em seguida vou a procura da minha amiga, vou para a cozinha e vejo que tinha um ambiente que parecia uma geladeira, mas teria que saber a combinação para conseguir abrir e sinto a presença dele se aproximando, corro para a sala que ficava ao lado e me escondo outra vez atrás do sofá enquanto ele rodava me procurando eu continuava rodando atrás do sofá abaixada, até ele jogar um machado em minha direção que foi parar na parede, ele desiste outra vez e incansavelmente me procurar em outro cómodo da casa,  volta para a cozinha e bato na porta na tentativa de abrir, mas não podia evitar o barulho, com agilidade corro para dentro dessa geladeira e vejo cenas horríveis de carnes enroladas em panos penduradas em ganchos pingando sangue, até que toco em um, e nele estava minha amiga que acabou caindo dele, tentei reanima-la mas infelizmente ela não havia resistido, mesmo assustada começo coloco minha mão na boca e começo a chorar desesperadamente, em seguida corro para direção a porta de saída de uma outra sala, mas ela estava trancada e era de metal impossível abrir, eu já estava enlouquecendo e sabia que o assassino estaria atrás de mim, corro novamente para o segundo andar, ele estava me esperando sentado e disse que a única saída era a porta atrás dele, eu pego um enfeito de barro que estava próximo a mim e taco com muita força dele, mas acabo que erro o alvo, mas ele contra atacou eu virei mas mesmo assim ele conseguiu acertar o meu braço, logo ele tinha mais outra armas com ele, então pego a faca que estava no meu braço e o ataco novamente ele segura fortemente a minha mão contra ele, até que finalmente consigo atingir a sua barriga, corro em até a porta, do lado de fora era um lindo dia vejo ele deitado no chão falando que não desistiria de me pegar ainda algum dia.
         Depois que tudo ele foi preso, mas semanas depois os noticiários disseram que ele seria absolvido e aquilo me trouxe grande pavor e revolta, mas eu me mudaria da cidade mas nunca mais conseguiria andar tranquila na rua, a minha vida nunca mais seria a mesma. Gostaria que tudo tivesse sido como um pesadelo desesperador, daqueles que quando ao acordar nos faz sentir aliviada sabendo que nada daquilo aconteceu, mas não foi.

O medo começou


      Em um condomínio moravam jovens que se conheciam desde criança e esse grupo de amigos resolveram baixar um aplicativo detector de fantasmas no tablet da Sany. Nesse aplicativo tinha variáveis opções de fantasmas e eles chegarem em um comum acordo. Era a noite e tinha faltado a energia no bairro e todos estavam na casa de Sany eles queriam que fosse o mais real possível queriam sentir adrenalina, Rodrigo era o mais animado, Joana falou que não gostava muito de brincar com essas coisas. Até que o aplicativo tinha sido carregado e assim começaram a caçar com o tablet na não, e a câmera apontando ao redor da casa em busca de achar o fantasma, nesse jogo indicava em pontinhos em qual direção estava o fantasma, até que ele apareceu na cozinha na parede branca uma mulher de cabelo preto gritando, eles levaram um susto, porém foi pouco, – Ah só foi isso? Dizia Joana, então Rodrigo não satisfeito sugere que procurassem em outras partes da casa, então Rodrigo ainda segurando o tablet as levam para o quarto de Sany,
 – Meu quarto não gente, vou ficar com medo depois. Mas mesmo assim Rodrigo diz que é tudo mentira é só brincadeira. E lá os pontinhos elevaram muito Sany começa a ficar com medo de verdade mais esconde pois vê que Rodrigo estava se divertindo. Até que fantasma apareceu novamente, mas só não era um fantasma que tinha nas opções do jogo, ele olhava para eles com uma cara muito brava e feia, e quando o grupo olhava para fora da tela não viam nada, – A coisa ficou feia, disse Rodrigo sendo o primeiro a correr, em seguida Joana atrás dele, e a dona do tablete que era a Sany acabou ficando para traz e a porta do seu quarto tinha se trancado com ela dentro, nunca teve esse problema na porta dela. Ela ao tentar destrancar a porta não olhava para traz, gritando tentou desligar e excluir aquele aplicativo, até que a porta se destranca e ela sai correndo atrás dos amigos que tinham a deixado.
            Depois de um tempo ela nunca ficou sabendo o que tinha acontecido naquela noite, mas ainda sim as vezes coisas estranhas continuavam a acontecer principalmente quando a casa estava muito em silêncio como uma vez ela estava na cozinha e a TV ligou sozinha. Em uma noite Sany sentiu uma mão gelada segurar firme em sua perna a puxando, quando de repente ela ouvi uma voz chamando seu nome e acorda no meio da cama e gritando, isso tinha sido o mais assustador mas depois o assunto tomou uma proporção maior. Ela conversou com seu amigo Rodrigo e perguntou se estava acontecendo com ele também, pois desde aquele dia do jogo coisas assustadoras vinham acontecendo com ela na casa, e ele diz que o problema não era o jogo mas devia ser na casa dela.
           
Certo dia Sany chega em sua casa do trabalho toma um banho e vai pentear seus cabelos molhados, e ao se olhar no espelho quando olha atrás dela ver um vult, ela voltou a olhar no espelho e atrás dela refletiu alguém de branco, quando sentia uma presença do lado dela. Sany começa a tremer e fecha a porta do banheiro rapidamente, do lado de fora ela escuta paços, como se fosse de uma pessoa correndo do lado para outro, e aquilo lhe causava grande aflição. Até ela gritar com raiva– Você quer me pegar? VEM LOGO, TO AQUI SEU FANTASMA IDIOTAI!!
O Som sessa, e logo depois batidas de leve na porta como se quisesse que ela abrisse. Até que sua amiga a Joana abre a porta correndo e vai até o banheiro socorrer Sany, quando a vê atirada no shão tremendo e com a cocha da perna sangrando com os próprios arranhados. Joana ajudou ela a se recuperar e fez um chá para acalma-la. – O que aconteceu aqui Sany? Ela responde que não sabe. Joana confessa que veio até a casa dela para conversar sobre isso, – Que seria isso? Sany ouvi de Joana quase os mesmos relatos. Joana tira Sany daquela casa e a leva para a dela, e tudo ficou mais tranquilo.
            No dia seguinte saindo da casa de sua amiga viu que o tempo estava nublado, ela foi trabalhar na empresa de revista, quando ela pega o elevador ele estava vazio e o andar dela era o penúltimo, ela entra e não via a hora de chegar lá em cima, o elevador para do nada e as luzes começam a piscar, depois de alguns minutos de tormento voltou ao normal, quando ela chega finalmente a porta do elevador demora a abrir e outras pessoas do outro lado que iriam pegar-lo para descer olhavam estranho para ela. Passouu-se isso Sany ficou até mais tarde trabalhando no escritório e estava muito deserto e absolutamente não tinha mais ninguém, até que ela ouve passos se prepara pegando um objeto de cima da sua mesa desconfiada ela abre a porta e leva um susto, mas quando acende as luzes seu era seu amigo Rick tinha esquecido as chaves do carro dele. Rick estava preocupada com Sany pois ela andava esquisita nos últimos dias e ele oferece ajuda, e diz que gostaria de leva-la ao um piscologo, Sany desnorteada de medo acaba aceitando sem mesmo saber onde, Rick disse que poderia deixar tudo por conta dele.
          
Sany se acalma e na volta para casa da sua amiga onde ela estava instalada,  pensa que o motivo não era somente a casa porque mesmo assim ela estava sendo assombrada em seu trabalho. No dia seguinte ela vai ao psicólogo como recomendado pelo seu colega. Ela entra e começa a explicar o seu problema e diz – Não saber o que é, me dá mais medo. A psicóloga diz que é um trauma que ela e a Joana sofrem por Rodrigo ter morrido quando criança enquanto eles brincavam no parquinho condomínio ela se sentem responsáveis. Sany pergunta qual o motivo dele assombra-las a doutora diz que como ela mesma falou ele gostava de brincadeiras de assustar.
            Sany e Joana fizeram tratamento para tentar não vê ele mais e tentar superar, elas se mudaram de casa e cada uma formou sua família, mas Sany foi a única que ainda o via e o fez com que Rodrigo prometesse não fazer mais brincadeiras para assusta-la e nem ao seu marido, ele prometeu e toda vez que Sany ficava triste ele aparecia para conversar com ela, e foi assim os anos se passando e ao mesmo tempo que Sany envelhecia Rodrigo ficava com a mesma idade que ela.

A flor de menina



Chamo-me Aline tenho 16 anos, moro com minha mãe Amélia, meus avos e tios, minha avó sempre insistia para que Suzane tivesse filho, pois ela queria muito ter mais netinhos, e Susana dizia que não estava preparada e não estava na hora, mas um dia de tanto minha avó insistir para tia Suzane ter um filhinho, ela acabou sonhando com uma menina sentada puxando seu vestido, mas ela me disse que quando essa menininha falava uma voz que não era de criança soava.
            Certo dia estava saindo do quarto e indo para a cozinha e no caminho tinha que passar pela sala, e nesse pequeno corredor vi duas meninas sentadas nas cadeiras de madeiras da minha avó, essas pessoas vestiam roupas antigas e pareciam tristes e também não falaram nada, minha tia abaixou a cabeça e seguiu caminho para a cozinha, quando voltou para olhar melhor não tinha mais ninguém lá. Mas tarde Susane vai ao mercado e enquanto estava escolhendo produtos de limpeza uma menina puxa sua saia, e ela gela na hora porque se lembrou do sonho, essa menina lhe entrega uma rosa, e se parecia com ela quando era menor, depois veio sua mãe a procurando pelo e diz que sua filha tinha ficado com a flor por muito tempo na mão, mas não quis dar para ninguém.
        Depois desse episódio minhas avós tinham ido viajar, e a casa ficou praticamente sozinha, então um outro dia minha mãe tinha ido até a cozinha cobrir as gaiolas dos passarinhos do meu avô, mas quando minha mãe abriu a porta ela disse que viu uma sombra escura que tinha passado por ela, e entrou no quarto da minha avó, bateu a porta com força, os passarinhos estavam muito agitados, nisso o cachorro também entrou na sala e ficou latindo para a porta e para aquelas duas cadeiras sem parar, em direção a esses.
            Ninguém da casa sabia explicar o que era aquilo, só sabiam que essa casa sempre foram dos meus avós, mas eles desconfiam que essas coisas aconteciam ali dentro pela quantidade de palavrões que a avó dela falava, e pela obsessão por Suzane ter um bebê. Mesmo Duranice sendo uma senhora religiosa sempre falava nome de coisas ruins e minha família pensa que as coisas ainda podem piorar porque um tio avô se suicidou na frente da minha avó, então cêntimos que vovó não está com uma boa energia, principalmente pelas coisas que vem acontecendo na casa dela. Então eles acreditam que talvez essas palavras que a avó profere tenha aberto espaço para coisas entrarem na casa. 




Créditos relados canal Assombrados/ editado Eduarda Citrino


A Caçada





Corria por entre galhos e troncos, em um verdadeiro.
Emaranhado cipreste. Parou, por um momento, curvado e com as mãos sobre os joelhos, de mostrando um imenso cansaço. Sentia o ar entrar paulatinamente enquanto os pulmões imploravam por mais. Mais uma vez a comichão saltou em sua boca como sujeira em superfície branca. Olhou para o alto e viu a noite se aproximar, rastejando como uma negra silhueta, sobre o que fora um céu azul horas atrás.
Tentou escutar, pois queria saber se ainda estava sendo seguido, mas as batidas em seu coração não lhe permitiam ouvir nada que não fosse o ressoar de um imenso tambor ecoando em seu peito. Resolveu que tinha que seguir adiante. Ficar poderia ser um erro fatal e o mundo àquela altura não parecia ser um lugar para erros.
         A noite caía por sobre a floresta. O frio começava a invadir cada pedaço do seu corpo, assobiando a canção da morte em seus ouvidos. Hoje o abominável homem das neves deveria usar seu gorro, diria a sua avó Libby. Ajeitou a blusa de frio sobre o corpo, como se quisesse esticar as mangas sobre as frias mãos, e seguiu adiante. Precisaria de um refúgio antes que a noite se instalasse por completo.
Era só um fim de semana fora do comum na casa do tio Herb, em uma fria floresta no Canadá. Todos vinham dizendo-lhe que ele trabalhava demais e que precisava sair de férias. No fundo sabia que isso era verdade e também que devia essa visita há muito. Além disso, prometera à sua mãe.
         O tio Herb era um cara legal, com seu corpanzil de lenhador com dedos tão grossos que era um mistério como conseguia usar o celular. Tinha uma casa simples, mas bem acolhedora, e o café com chocolate ao redor da lareira na sala era bem mais do que simplesmente reconfortante.
         Ali era, sem dúvida, o lugar certo para recarregara bateria e voltar para sua rotina estressante em uma grande firma de investimentos em Nova York. Aquela era a segunda noite das três que passaria por ali. Agora corria, deixando o rastro de medo atrás de si como um sinal de fumaça.
         Súbito, escutou algo próximo de um uivo, um grasnido, como se algum animal agonizasse perto do fim. O uivo, que se assemelhava a um lamento, chegara coincidentemente com a noite.
         Estacou novamente. Estava correndo há horas, provavelmente em círculos. A respiração ofegante erguia seu peito como uma bomba de ar. Enfiou as mãos no bolso, desesperadamente, procurando seu aparelho celular.
          A grande tela iluminou seu rosto já acinzentado pelo frio e ergueu o telefone em busca de sinal, teimando com o perfeito isolamento em que se encontrava. Às vezes, esperança é tudo que se tem, lhe disse a voz da consciência.
         Não entendia como os japoneses faziam a besteira da sua biblioteca musical caber inteira na palma da sua mão, mas não tinha a porra de um sinal quando estava enfiado no mato. Isso quase o transformava em um Tarzan com um liquidificador ou Robson Crusoé com um Xbox.
         Voltou os olhos, os grandes olhos azuis que encantavam desde o colegial, para dentro da floresta, quando teve seu raciocínio quebrado por mais um daqueles estranhos uivos. Decidiu que se era para morrer abandonado e longe da civilização iria dificultar o máximo para eles.
         Tinha as costas apoiadas contra um espesso tronco de uma árvore. Mesmo exaurido, tinha que continuar e descobrir o que realmente estava acontecendo.
         Se pelo menos soubesse por onde estava andando... Tio Herb conhecia cada maldito pedaço daquele lugar, lembrou. Mas não adiantava. Herb estava morto agora.
         Puxou o ar mais uma vez, como se faz antes de um mergulho, e pôs-se a correr.  “18:31” era o que o seu grande smartphone dizia quando o ligara fazia pouco tempo. Devia estar nesse redemoinho insano há quase duas horas.
         Onde ficava a porra da cidade mesmo? Foi o que disse quase em voz baixa. Decidiu ir na direção em que estava, pois o caminho estava feito sobre a relva. Era como se usassem aquela trilha com frequência. Fazia sentido, então era por ali que seguiria. Pelo menos enquanto os pulmões aguentassem.
         Sem saber o porquê, lembrou-se dos ingressos da final no Citi Field Baseball Stadium. Tinha usado todo seu charme e contatos para conseguir aqueles ingressos. A final seria na Terça à noite. Passariam no 1920 Bunker Club antes. Ele e Rudy, o grande amigo de infância. Depois, já com algumas cervejas na cabeça, iriam para o jogo.
         Dizem que algumas pessoas antes de morrer veem um filme inteiro de suas vidas diante delas. Jack não sabia se isso era verdade, tampouco se estava realmente para morrer, mas lembrou da final dos New York Mets contra os Atlanta Braves.
         Independente do que achava àquela altura, Jack correu decididamente por entre aquela trilha aberta em meio ao denso matagal que era aquela floresta.
         A temperatura havia caído consideravelmente e seus pulmões ardiam como brasas sob uma grelha. No escuro os sons e formas pareciam ganhar tamanho.Longe, o uivo ganhou uma conotação de horror, diferente do lamento que Jack achara ter ouvido antes. E a cada vez que olhava por sobre os ombros, achava - na verdade quase tinha certeza -, que a extensa e negra mão que habita a escuridão lhe tocaria com dedos tão frios como a morte.
         Tinha a certeza de que o barulho estava mais perto agora. Eram mais rosnados do que uivos na verdade. Finalmente a trilha havia acabado e Jack chegou em uma espécie de paredão. Sem titubear, começou a escalar a rocha. As frestas eram tão grandes que lhe permitiam servir como degraus.
         Lembrou de sua antiga coleção de revistas em quadrinhos, em especial a do bárbaro Conan, criado por Robert E. Howard, em que o Cimério escalava muros e planícies tão lisas como se tivesse cola na ponta dos dedos selvagens. Mas os tempos eram outros e Jack tinha certeza de que o coração do velho bárbaro não saltava à boca em situações como essas ou tampouco sucumbiria ao pavor de uma invisível mão que pudesse habitar o coração das trevas no fundo da floresta.
          Já quase no cimo da pontiaguda rocha, pôde ver seus agressores se aproximarem. Manteve-se estático como uma haste de pedra, quase se tornando parte daquele imenso pedregulho com cor de concreto. Cerrou os olhos, forçando-os sobre as pálpebras. Talvez fossem embora se não o avistassem lá em cima. Ou talvez... Talvez o farejassem com o agridoce aroma da morte, escancaradas em suas faces.
          E, aos montes, eles foram se amontoando lá embaixo.Eram desordenados, quase como se estivessem confusos. Mas definitivamente assustadores terrivelmente assustadores.
         Tremendo e com o medo a cavalgar por sobre seu corpo e o vento frio a lhe açoitar em pleno relento, Jack rogava para que um anjo de luz pudesse intervir e salvar sua vida. Ainda que naquele momento o mundo tivesse se transformado em um lugar inóspito até mesmo para anjos.
         O bando se aglomerava cada vez mais. Eram muitos agora. À frente de Jack descortinava-se o horror. Seu odor humano provavelmente invadia as narinas de todos lá embaixo deixando-os em total alvoroço. Sem muita opção, continuou seu caminho rumo ao topo da rocha. Alguns membros do bando ousavam escalar o rochedo, sem sucesso, enquanto outros procuravam outra forma de ter acesso ao cimo.
         Uma semana antes de tudo aquilo o mundo científico estivera em polvorosa: um enorme fragmento do que alguns consideravam um planeta provavelmente extinto pelo sol teria o seu cinturão lançado à órbita da terra. E embora não fosse trazer risco algum ao nosso planeta, seu brilho e incandescência poderiam ser vistos a olho nu. A Estrela da Morte, como vinha sendo chamado o enorme asteroide, passaria dentro de quatro dias, etalvez nem em cem anos aconteceria algo perto disso. Uma chance única - é o que a maioria dizia.
         Connie, a mãe de Jack, insistiu que esse fosse o momento de realmente visitar o tio Herb. Aquela seria uma ótima oportunidade de ver algo tão único assim sobrevoando os céus de nosso planeta.
         O local onde morava o tio Herb era o palco perfeito, um lugar onde todas as noites podia-se até mesmo contar as estrelas no céu. Diante daquele enorme véu escuro tudo parecia brilhar mais e mais. Jack tinha visitado o lugar algumas vezes na sua infância e sabia que isso era verdade. 
          Então, no exato momento que havia sido anunciado aos quatro cantos, Jack e o tio Herb estavam do lado de fora da casa, aquecidos por uma bela fogueira caseira. Ficaram abismados quando a Estrela da Morte cruzou o céu sobre suas cabeças, que estendidas, olhavam para o alto, estupefatas. O brilho era impressionante e trazia uma cauda de fogo que serpenteava no negro céu.
         Impactados com a unicidade e beleza do momento, Jack e tio Herb fitavam a grande bola de fogo a atravessar os céus e permaneceram em silêncio, apenas observando.
         Entretanto, o que não fora detectado pelos entusiasmados cientistas e pesquisadores era o alto grau de radioatividade, além de um exótico mineral que em contato com a nossa atmosfera poderia se transformar em algo tremendamente nocivo, principalmente para alguns animais.
         Menos de um minuto depois, enquanto sua cauda aindatremeluzia diante dos olhos de milhares, as pessoas, admiradas, registravam tudo em seus celulares e tablets. Sorrisos e faces de espanto olhavam para o céu, admirados. E mais e mais a cena ia se repetindo em diferentes pontos do mundo.
         Do lado de fora da cabana, em frente à fogueira, tio Herb olhava, impressionado, o grande e brilhante cometa sobre sua cabeça iluminando como um grande sol tudo à sua volta.
         O espetáculo foi interrompido quando um rosnar atípico se fez ouvir vindo de dentro da casa.
         Desviando os olhos por um momento, tio Herb voltou seu olhar para a frente da casa e no escuro da porta entreaberta viu surgir o brilho efusivo de dois pontos avermelhados. Não entendeu ao certo. Apenas o velho cão Salt estava lá dentro e sempre fora manso como uma criança calma.
         Jack também voltou seus olhos por um instante e viu que algo estranho acontecia.
         O focinho esbranquiçado surgiu pela fresta da porta tendo agora, o brilho da Estrela da Morte sobre sua carranca com pelo acinzentado. Os dois se entreolharam.
         Salt aproximou-se com os dentes à mostra. Os caninos saltavam-lhe à boca, brancos como marfim. As unhas pareciam maiores e o ar amistoso do velho cão dera lugar a um semblante de fera incontrolável, prestes a atacar.
         Diante da situação, tio Herb ajoelhou-se e chamou o velho companheiro para perto deles, como se aquilo não passasse de um mal entendido.
— Ei, Tio, acha mesmo uma boa ideia? Ele parece um tanto transtornado.


— Calma Jack. É o velho Salt. Está comigo há mais de quinze anos... Venha cá, garotão. O que
foi?  — disse Herb, gesticulando amistosamente para o cão.

         Salt havia se transformado em um imenso rato gigante que berrava contra a vassoura.
         Os olhos do tio quase saltavam de sua órbita, tamanho o susto. Ficaram estacados por algum momento e Jack ainda não havia entendido muito bem o que acontecia.
         Ouviu um farfalhar no arbusto longe atrás da fogue ira, seguidos de uivos e rosnados assustadores. A grande bola de fogo ainda cruzava os céus quando o velho cão Salt avançou sobre o dono com o ódio reluzindo em seus olhos alaranjados.
         Jack, estacado com o ataque, não teve o que fazer, e viu o cão estraçalhar o pescoço do tio com uma ferocidade implacável. Nos arbustos um bando dehienas surgia com o mesmo olhar insano e bocarras escancaradas sobre os prolongados focinhos, enquanto, ao longe, mais uivos e grasnidos se juntavam ao bando.
         Olhou para o corpo de Herb sendo desmembrado e o medo correu por todo o seu ser. Lentamente foi abandonando a cena, andando para trás.
         As hienas surgiram através do arbusto, enlouquecidas pela passagem da bola de fogo, e agora cravavam os dentes sobre o cadáver do tio. Mais e mais pareciam surgir. Uma hiena que passava a língua entre os dentes, ainda com a face suja de sangue, olhou para Jack como se dissesse: você é o próximo, garoto!
         Apavorado, Jack pôs-se a correr, o coração saltando lhe à boca. Em todo o mundo havia relatos de cães e animais quase tornaram descontrolados, praticamente enlouquecidos.
         Agora Jack estava escalando o cimo da rocha enquanto todos eles se aglomeravam lá embaixo esperando que o cansaço ou o desespero levassem-no a falhar. Olhou para baixo uma vez mais, vendo os olhos coloridos e pelos eriçados sobre os longilíneos corpos das feras.
         Esforçou-se e a mão alcançou o topo do imenso rochedo. Rolou de lado deixando o cansado corpo espalhado pela superfície arenosa do rochedo. Ainda ofegante, abriu os olhos e viu o negro céu que circundava, como uma enorme redoma escura, o firmamento. O coração ainda batia descompassado dentro do peito.
         Ali em cima os ruivos e rosnados pareciam chegar mais assustadores do que antes. Resolveu erguer o corpo e arranjar uma maneira de sair dali. Cedo ou tarde aquelas criaturas conseguiriam chegar ao topo da montanha. Seria bom que não estivesse mais por lá quando isso acontecesse.
         Chegou perto do limite da encosta e deixou seus olhos avistarem o bando lá embaixo, mesmo com o lancinante frio da altura golpeando seu estômago.Identificou Salt entre eles. Parecia o líder, se é que tinham algum.
         Um coiote com o pelo dividido entre preto e branco e um enorme respingo de sangue sobre a face caminhava em círculos, trazendo consigo um pedaço da perna do tio Herb, ou o que sobrara dela.
         Os olhos de Jack corriam por toda a extensão da montanha.
         Ao longe parecia ouvir o barulho de água. 
Resolveu então cruzar os arbustos que se encontravam à sua esquerda, pois era o que tinha àquele momento. Afastou os galhos com a mão enquanto espinhos e ramos rasgavam e penetravam no seu espesso blusão de frio. Continuou atravessando o denso corredor de galhos e troncos que se assemelhavam a uma coroa de espinhos.
         Ouviu o barulho da água mais próximo e pensou na possibilidade de realmente estar salvo. Quase sorriu. Pensou estar quase no fim daquele emaranhado esverdeado e, antes do que imaginou, saiu em uma clareira oval que tinha a luz da lua como um holofote brilhando em um grande palco iluminado.
         Tinha seu blusão quase coberto de cortes e rasgos. Nas mãos, espinhos cobriam partes das falanges de seus dedos e filetes de sangue escorriam enquanto o frio esbofeteava sua face com uma fina luva de gelo.
         Aproximou da encosta saindo um pouco do palco oval à suas costas.
         Lá embaixo, no fim do penhasco, entre rochedos e recifes a corrente d'água explodia contra as rochas em uma violenta maré. Deixou seus olhos mergulharem naquele penhasco, percebendo que era, de fato, sua única saída. Mas, mesmo que sobrevivesse à queda, ainda havia os recifes e a temperatura da água que poderiam matá-lo antes mesmo que encontrasse a margem.
         Passou as mãos sobre o rosto gelado, e quase desistiu. Era apenas um fim de semana com seu tio e que não via por uma longa data, pensou. E agora estava na encosta de um penhasco pensando em vida e morte como uma escolha entre cara e coroa decidida por uma moeda.
         Pelo visto a reunião com um investidor alemão na segunda teria que esperar. A final com Rudy na terça também. Provavelmente até o jantar com a estagiária do marketing. A não ser que ela acreditasse na vida após a morte, pensou, e quase sorriu novamente.
         Os arbustos farfalharam violentamente, seu coração disparou.
         A luz ainda tinha seu holofote, ali, no palco daquela encosta.
         Viu o focinho esbranquiçado surgir quase com graça,iluminado pelo brilho da lua, logo seguido pelos olhos coloridos. Salt foi o primeiro, seguido por mais dois. Pararam sobre o oval círculo de luze ficaram observando por um instante sua presa.
         Estáticos, cruzaram os olhares por um bom tempo. Salt estava no meio, era o líder, sem dúvida. O coiote listrado em branco e preto trazia a perna de Herb ainda consigo, um troféu de osso e sangue. O vento sibilava com furor sobre a encosta.
         Salt deu um passo à frente. A meia lua amarela brilhava no centro do seu olho, seus caninos brancos rosnavam e o vento corria sobre seu pelo eriçado. O arbusto se mexeu uma vez mais e dele surgiu o resto do bando. O jantar estava servido, e agora todo o bando encontrava-se no cimo da encosta.
         Jack deu mais um passo para trás. Tinha ali seu limite: o calcanhar sob a perna que tremia, estava à beira do penhasco.
         O vento açoitava suas costas, os cortes ardiam em suas mãos.
         Então Salt ergueu-se sobre as patas com as imensas unhas agarrando-se ao chão. Praticamente em pé, mostrando a barriga peluda e os dentes escancarados, rosnou como uma besta sob o brilho da lua. Parecia enorme visto dali, à beira da encosta.
         Voltou às patas dianteiras ao chão, olhou uma última vez para seu bando e jogou-se em direção a Jack.
         A distância parecia enorme.
         Jack viu as patas afundarem no chão em cada passo, aproximando cada vez mais de onde estava e curvou o corpo, esperando o ataque. Não tinha mais aonde ir. Colou seus olhos na horrenda face de seu predador.
         Ali, sob aquele frio e lancinante vento, os segundos pareceram uma eternidade. Todos os olhos do bando estavam juntos com Salt.
         Jack retesou seus exauridos músculos enquanto seu coração ribombava em seu peito. Salt, decidido, saltou sobre Jack. No impacto e já à beira do penhasco, caíram agarrados em um vertiginoso mergulho.
         Jack tentava conter as investidas do seu peludo algoz, mas as incontroláveis presas alvas de Salt cravavam em seu antebraço retirando nacos de carne e sangue misturado ao espesso nylon do blusão fazendo com que ele urrasse, em uma dor visceral, enquanto o mergulho continuava.
         Incansável, Salt investia seguidas vezes contra a face de Jack, o sangue espalhando-se em plena queda. Logo teve sua artéria carótida rompida pelos afiados caninos do Cão, que golpeavam seguidamente a face lateral de seu pescoço.
         No alto do penhasco, o bando aglomerava-se à beira
da encosta assistindo o espetáculo, passando
a língua entre os dentes com os focinhos ainda cheios de sangue... e uivando.
        
         Jack se rendera ao vazio e, de forma embaçada, via a luz da lua e os olhos do horror a lhe rasgarem o pescoço. O vento frio não mais incomodava.
         Como uma rocha, os dois adentraram a fria água que cobria os corais. Jack absorvera todo o impacto, esmagando costelas e ossos.
         Com a colisão, entregou-se aos braços da morte, afundando com o sangue ainda jorrando de sua garganta estraçalhada. Os olhos lentamente se apagando.
         Do outro lado da encosta, Salt boiava em direção à margem.
         Do cimo da montanha o bando via seu líder ser levado à margem pelo balançar das ondas. O silêncio era quebrado pela maré que se jogava violentamente contra os recifes e corais.
         Salt jazia desacordado na superfície arenosa. A boca ainda trazia a vermelhidão do sangue de Jack espalhada pelo alongado focinho esbranquiçado. Entre os dentes jaziam pedaços de carne.
         Súbito, seus olhos se abriram, a amarelada meia-lua brilhou como fogo no centro do seu olho.
         Pôs-se de pé e chacoalhou o corpo no intuito de secar a molhada pelagem que cobria seu corpo. A espessa cauda chicoteava o ar espalhando gotas à sua volta.
          Olhou para o alto e viu seu bando em alarde. Comemoravam quase como um bando de bárbaros enlouquecidos.
          Ficou em pé sobre as duas patas como uma enorme criatura da noite e berrou para o alto em direção ao cimo, onde encontravam-se os outros.
         Os dentes, arreganhados, estavam sujos de sangue... e ele queria mais. 







Contos de terror: Minibiografia: Luis Maldonalle autor do livro Sete Noites em Claro.