O que virá?




      Andando de carro indo viajar com a minha irmã mais velha e o meu cunhado para a virada do ano, na verdade não queria estar indo viajar porque esse foi um ano muito agitado e eu queria passar com os meus pais em casa, porém eles me convenceram de que seria divertido então eu topei. Estava eu na estrada viajando no banco de trás vendo minhas conversas com Augusto no celular, sorrindo por algumas mensagens e ficando tristes por outras, criamos uma amizade além dele sempre ter sido fofo comigo, mas na verdade só chegamos a ser isso mesmo amigos, porém por alguma circunstância devido a ele sair da faculdade para buscar um outro curso que ele queria, eu acabei por revelar que como me sentia, como eu poderia agora não ver mais ele, e que sentiria saudades. Bom chegamos a marcar de nos vermos em outro lugar, mas aí ele disse que na verdade não buscava um relacionamento no momento. Bom não nos falamos depois disso embora estivesse ainda triste e com nó na garganta, não sei se fico feliz por ele ter sido honesto comigo ou triste misturado com raiva por ele pensar assim. Enquanto estava na janela com todos esses devaneios, meu cunhado liga o rádio e anunciam uma informação, era de que a parte da ponte Rio estava fechada e ninguém poderia sair da cidade. Não estávamos entendo o porquê, só que estávamos indo para lá. Nesse momento o carro bate em alguma coisa, parecia ter sido uma pedra enorme. Ele parou o carro e nós levamos um susto, minha irmã faz uma piada perguntando se ele tinha atropelado alguém, olhamos pela janela somente meu cunhado saiu carro olhando para traz vendo o que tinha acontecido. Eu e minha irmã ficamos pacientemente esperando.

– Maria estou falando com você, saiu desse celular menina.
– O que você falou?  pode repetir? – Dizia deixando o celular no colo parando de olhar por um minuto –
– Quem é Augusto?
– É um amigo
– E porque está com essa carinha de triste?
–  Gente. Aparece meu cunhado­­­­ da janela nos dando um susto – Não sei em que o carro bateu, só sei que esvaziou um dos pneus teremos que ficar aqui por um tempinho esperando, mas vou ligar pedindo ajuda.
            Nesse dia fazia um calor dos desertos e nos só tínhamos uma caixa com uma garrafa de água congelada. Saímos do carro para ir buscar no porta malas a água e nisso fico aliviada por estar esticando as pernas um pouco, olho ao redor de onde paramos e estava tudo vazio nenhum outro carro, era um lugar onde nunca estive antes da qual me lembro e já estando muito longe de casa. Encostada no carro ponho meus fones de ouvido me abanando com um pedaço de folha. Minha irmã enquanto bebia água, meu cunhado ligava novamente o rádio do carro para ver como estava as notícias de acordo com o fechamento da ponte. Ligo a internet do meu celular já sem esperanças de que tivesse mensagem dele, espero alguns segundos e vejo nas notificações que tinha uma mensagem dele, fico com o coração disparado, realmente não esperava, então tento me acalmar e visualizo o que ele tinha dito.

“Onde você está? está tudo bem?”

Não entendi aquela mensagem, porque ele queria saber onde eu estava, porém respondi.

“Estou indo viajar com minha família”

– Meninas precisamos sair daqui agora. Dizia meu cunhado

– Como? A ajuda não chegou ainda. Dizia minha irmã sem entender nada
Eu tiro os fones de ouvido vendo a cara deles preocupados.
– O que aconteceu?

– Fiquem calmas
– Oque? Perguntávamos as duas assustadas
– A rádio informou que ninguém vai poder ter acesso a ponte, para que não correm perigo, pois um meteoro está preste a cair e provavelmente em direção ao mar.
– Mas se continuamos aqui vai ter um tsunami, não vai adiantar nada a água vai vim para esses lados de cá, o que vamos fazer agora?

Eu fiquei sem reação, não falei nada umas das piores sensações é aquela que você sente que não tem saída.

– O único lugar alto que poderíamos ficar seria depois da ponte Rio, mas eles não estão deixando passar e até chegar lá está um caos do engarrafamento. Dizia meu cunhado

– Isso não é justo eles deviam liberar e deixar lutarmos pelas nossas vidas. –Dizia em meio ao choro e desespero. – E agora vamos volta para as nossas casas?
Ele ponhe a mão na cintura pensando, e aquilo me assustava ele tentava se mostrar calmo, porém via nos seus olhos que ele estava com medo e estressado.

– Vamos voltar em casa buscar seus pais e procuramos um lugar alto. Dizia ele.
            Volto a olhar o meu celular tocando, não conseguia ouvir, estava no ponto em que as redes estavam perdendo o sinal e interferência impedia de ouvir a voz, alguém tentando me falar alguma coisa, depois de muita dificuldade conseguir ouvi.

– Alô? Maria onde você ta?
– Augusto? Eu to voltando para casa não tem jeito mais.
– Você precisa vim para cá. Fica calma vou te falar onde estou ouve com atenção.

Nunca tinha visto ele falar daquela forma tão sério.
– Você tem que continuar indo para a ponte agora, ou depois pode ser tarde demais para passar por lá. Existe um caminho, teremos que passar por baixo da ponte a pé para podermos chegar do outro lado.

– Mas eu tenho que buscar meus pais, além do mais o carro quebrou não teria como chegar ai Augusto

O céu fica nublado de repente e a ligação cai.
– Quem era Maria?  Perguntava minha irmã
– Augusto me disse que temos que continuar indo em direção a ponte, tem um lugar onde podemos ultrapassar.
– Ok. Vocês precisam ir, eu vou na casa de vocês buscar seus pais.
– O que? Não meu amor, vamos todos juntos.
– Vai com sua irmã agora.

Recebo uma outra ligação

– Mãeeee. Digo em meio ao choro. Ligo o viva voz do celular
– Meus amores vocês precisam continuar indo, não venham aqui, não vai dar tempo, vocês precisam ir.
– Não... vamos ir ai sim.
– Estamos bem, vamos ficar bem eu prometo, vamos lutar, vamos procurar um lugar alto.
– Tem certeza? Você promete mãe?
– Eu amo vocês!
 A ligação cai
 minha irmã não parava de chorar

– EU NÃO VOU DEIXAR MEUS PAIS. Dizia com lágrimas nos olhos indo sozinha a pé para casa.
Eles gritam meu nome pedindo para voltar
Um carro aparece era um carro onde augusto estava dentro. Augusto sabendo da situação sai do carro correndo e vai atrás de mim.
– Maria escuta, mesmo que você quisesse estar com seus pais, não ia dar tempo de você chegar lá... no meio do caminho a água poderia já ter te alcançado.
– Não me importa. Continuo andando
Augusto olha para o céu nublado
– Maria, me escuta temos que ir agoraaa!!! Eles vão ficar bem eu prometo. Dizia olhando dentro dos meus olhos, e aquilo de alguma maneira me trouxe um pequeno conforto e confiança. Ele me carrega no colo a força e me coloca dentro do carro.
            Chegando quase que perto da ponte as ruas já estavam cheias de carro era impossível a passagem do carro que estávamos e o tempo cada vez mais ficava escuro, mesmo sendo ainda as 16:00 horas da tarde. Deixamos o carro no caminho e fomos andando até a divisa, onde deveríamos passar ainda pelos guardas, para pegarmos o caminho debaixo da ponte. Distante ainda andando até a frente de longe observei discussões entre duas pessoas, outras pessoas estavam muito violentas, olho para o lado e vejo uma pessoa discutindo com um guarda, esse mesmo policial é atingido com um soco por esse homem, eles começam a brigar, nesse momento eu fico muito assustada e nós paramos de andar na hora. Esse homem de repente desiste de brigar, ele olha para trás, encara toda aquela multidão e em seguida se joga na água ponte a baixo, o policial tenta impedi-lo e acaba quase caindo também. Vendo aquela cena eu fecho meus olhos e grito, mas parecia que tudo e todos até os pássaros tinha ficado em silêncio quando ouvimos um estrondo no céu forte e as águas se movimentava agitada.

– Precisamos ir, dizia Augustos junto de sua família
– Ta ventando muito, estou com medo de passar tão perto da água. Dizia olhando a imensidão do profundo mar.
Um dos policiais falava com alguém no telefone, parecia ser ser sua esposa.

– Amor está tudo bem por ai?


– Sim, eu e o Bernardo estamos bem!.
– Eu tenho que continuar aqui trabalhando, vai ficar tudo bem, mas eu queria dizer que amo você mais que tudo, que o Bernardo é a minha vida.
E assim ele joga o celular no mar e continua seu trabalho impedindo as pessoas de ultrapassarem.

            Nós corremos para baixo das estruturas da ponte e era um caminho longo até chegar do outro lado, não sabíamos se iria dar tempo, mas estávamos fazendo isso, eram 7 pessoas no total, algumas outras pessoas vieram com a gente outras acharam loucura fazermos isso. O fato é que a água na ponte de ferro que estávamos passando estava na altura do meu pé e mais pra frente meus pés desapareceram só continuava andando, mas não via mais a ponte de ferro que estava andando, imaginava que mais pra frente não conseguiríamos andar, porém não temos como voltar mais também estávamos encurralados. Eu não sabia sequer nadar, fico desesperada quando começa a chover sinto meu pé andando com dificuldades, mas não via a ponte onde estava andando só via água do mar raivosa e do meu lado e aquilo me causava muita aflição. Augusto estava na minha frente ele segura minha mão me guiando e me puxando. Conseguimos chegar na parte mais alta, porém quando descia novamente parecia não ter mais ponte somente água, Augusto continua me guiando, até que eu me desiquilibro ele me segura firmemente com seus braços e consigo prosseguir.
            Foi uma longa caminhada difícil e com muita concentração, quando vi a terra firme não podia acreditar que tínhamos conseguido finalmente passado. Continuamos a correr, e fomos subir uma montanha, mas estava tão cansada que parecia que meus pés iam paralisar a qualquer momento.
            Estando do alto víamos a multidão e com lágrimas nos olhos eu evitava olhar para o mar, não me sentia segura ainda, pensava que talvez a proporção da imensidão do mar alcançasse ali onde estávamos.
Esperamos por algumas horas, eram 23:30 quase perto da virada do ano, Augusto veio até mim e me abraçou.
– Nós vamos conseguir.
– Porque não deixou eu morrer?
– Porque eu te amo Maria, essa é a verdade
– Precisou acontecer tudo isso para você me dizer isso. – Conseguimos sorrir.
Deu 00:00 dia 1 de janeiro estamos no alto, mas nenhum sinal de fogos apenas um estrondo do mar e uma claridade como se fosse de tarde, primeira vez que foi dia a noite. Vento muito forte e sentia um tremor de terra. Corremos para dentro de uma caverna que tinha na montanha e ficamos por lá. Todos ficamos abraços em grupo o tempo esperando aquilo tudo passar. De manhã fomos para fora e não reconhecemos a cidade, tudo estava tomado por água. Botei a mão na boca e comecei a chorar.
            Dias se passaram essa notícia não parava de circular pelos noticiários, busca de emergências, soldados, bombeiros, médicos estavam sobrevoando. Nos resgataram fomos para um hospital para sermos atendidas. Quando chego lá vejo duas pessoas deitadas tomando soro, quando chego mais perto eram meus pais.

– Mãe? Pai? Não posso acreditar!!

– Minha filha vem cá. Diziam os dois

– Cuidado, não abrace ele muito forte, seu pai quebrou a costela.
– Onde vocês ficaram?
– Um amigo antigo nosso foi buscar a gente avisando para ficar do lado de fora que uma ajuda viria, uma equipe de resgate de um helicóptero. As pressas o piloto disse que só poderiam vir dois, nosso amigo disse para eu e seu pai irmos primeiro, e ele disse tranquilamente que iria dar tempo de buscar ele depois, sendo que nem mesmo a equipe garantiu que iria dar tempo de eles voltarem. Já a caminho o piloto nos conta que poderia voltar, mas o comandante deu a ordem para ele não fizesse isso, ele já tinha quebrado a regra de ter ido lá buscar nós dois. 
Todos nos chorávamos ao ouvir a história.

– Mesmo ainda doendo tantas perdas, agora teremos que sarar as feridas de nossos corações e começarmos outra vez.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é sempre bem vindo! comente, opine, se expresse! este espaço é seu!


Deixe seu comentário♡



Eu amei de verdade lê cada palavrinha do teu comentário, cada um é mais do que importante pra mim. É muito gratificante, pois assim consigo perceber que meu trabalho está sendo visto♡♡